00:01 - 00:06 | Quando eu escuto aquilo que chamamos de música |
00:07 - 00:10 | parece pra mim que alguém está falando |
00:10 - 00:17 | e falando sobre seus sentimentos, ou sobre suas ideias de relacionamentos |
00:17 - 00:21 | Mas quando eu escuto o trânsito, o som do trânsito |
00:21 - 00:23 | aqui na [...não entendi o nome do lugar...] |
00:23 - 00:27 | eu não tenho a sensação que alguém está falando. |
00:27 - 00:33 | Eu tenho a sensação de que o som está atuando/agindo |
00:33 - 00:37 | e eu amo a atividade do som, |
00:37 - 00:41 | o que ela faz é: ficar mais ruidosa ou mais silenciosa, |
00:41 - 00:44 | e ficar mais alta ou mais baixa, |
00:44 - 00:47 | e ficar mais duradoura ou mais curta, |
00:47 - 00:51 | todas essas coisas com as quais eu estou completamente satisfeito |
00:51 - 00:55 | eu não preciso do som para falar comigo. |
00:56 - 01:00 | Nós não vemos muita diferença entre tempo e espaço, |
01:00 - 01:04 | não sabemos onde um começa e o outro pára |
01:05 - 01:09 | então muitas das artes que pensamos estão sendo no "tempo", |
01:09 - 01:14 | e outra grande maioria está no "espaço" |
01:14 - 01:19 | Marcel Duchamp, por exemplo, começou a pensa o "tempo", |
01:19 - 01:24 | ou melhor, a pensar a música como sendo não uma "arte de tempo" |
01:24 - 01:26 | e sim uma "arte de espaço" |
01:26 - 01:30 | e ele fez uma uma obra chamada "escultura musical", |
01:31 - 01:32 | que significa... |
01:34 - 01:41 | diferentes sons vindo de diferentes lugares, e durando, |
01:41 - 01:47 | produzindo uma escultura que é sonora e que permance. |
01:49 - 01:54 | As pessoas esperam, ao ouvir algo, que isso seja mais do que só "ouvir" |
01:54 - 01:57 | e então às vezes eles falam sobre "escuta interior"... |
01:59 - 02:03 | ...ou então sobre o "significado" do som |
02:03 - 02:07 | quando eu falo sobre música... |
02:10 - 02:15 | ... finalmente vêm à mente das pessoas que eu estou falando sobre som, |
02:15 - 02:17 | e que não significa nada... |
02:19 - 02:23 | e que não é "interior", é apenas "exterior". |
02:23 - 02:27 | E essas pessoas, que finalmente entenderam isso, eles dizem: |
02:27 - 02:30 | "você tá querendo dizer que são só SONS?" |
02:30 - 02:37 | pensando que por uma coisa ser "só som", essa coisa é inútil. |
02:38 - 02:41 | Eu amo os sons, apenas como eles são. |
02:43 - 02:48 | E eu não tenho necessidade nenhuma de que eles sejam mais do que eles já são, |
02:48 - 02:51 | eu não quero que eles sejam psicológicos, |
02:52 - 02:55 | eu não quero um som que finja ser/estar ???? |
02:55 - 02:58 | ou que seja... um presidente (?)... |
02:58 - 03:02 | ou que finja estar apaixonado por outro som. |
03:04 - 03:07 | Eu só quero que ele seja um som. |
03:09 - 03:11 | E eu não sou tão estúpido também, |
03:11 - 03:18 | existe um filósofo alemão, muito famoso: Immanuel Kant, |
03:18 - 03:24 | e ele diz que há duas coisas que não tem que significar coisa alguma. |
03:25 - 03:30 | Uma é a música e a outra é o riso. |
03:32 - 03:38 | "Não ter que significar nada", em arte, isso nos dá um prazer muito profundo |
03:40 - 03:44 | ...ah... VOCÊ sabe disso, não sabe? |
03:45 - 03:51 | A experiência do som que eu prefiro ao invés de todas as outras |
03:53 - 03:56 | é a experiência do silêncio |
03:57 - 04:01 | e o silêncio, como quase todo mundo no mundo sabe, |
04:02 - 04:03 | é... é... |
04:04 - 04:05 | ...trânsito / tráfego. |
04:05 - 04:08 | Se você escuta Beethoven, ou Mozart |
04:08 - 04:12 | você verá que eles são sempre a mesma coisa. |
04:13 - 04:17 | Mas se você escuta o trânsito você vê que é sempre diferente. |